ABC do Cancro
e Tratamentos

“Naquele momento em que o médico me disse o que eu tinha… foi ter a certeza de uma coisa que eu já sabia, mas desejava não saber.”

Sabias que o teu corpo é como uma casa? Não? Nós explicamos. Todas as casas têm paredes, tijolos, corredores, quartos… O teu corpo também. A tua pele, que cobre todo o teu corpo, são as paredes da casa. Dentro da casa tens quartos e corredores. 

Na tua casa, as paredes são compostas por tijolos, que são as células. Estas são tão pequenas que não as conseguimos distinguir. Há células que estão juntas umas às outras e formam órgãos e tecidos, e células do sangue que nadam livremente dentro dos vasos por todo o corpo. 

As células vão-se multiplicando sendo que, por vezes, algumas delas gostam de pregar partidas. Há células malignas (doentes) que não conseguem viver no mesmo corpo que as células benignas (saudáveis). O mais aborrecido é que, tal como as células benignas, também as células malignas fabricam novas células e passado pouco tempo já existem em grande quantidade. 

As células malignas agrupam-se formando o que conhecemos por cancro. Existem muitos tratamentos cuja função é destruí-las. Vamos explicar-te melhor:

OS TRATAMENTOS

“Quando saía de casa, havia pessoas
que comentavam as falhas no meu cabelo
e diziam que deveria rapar tudo
- o que me deixava chateado,
pois se estava assim era assim que queria andar.”

Os tratamentos mais comuns para destruir as células malignas são a quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, terapia dirigida, cirurgia e transplante de medula óssea. 

É muito importante confiares na equipa de profissionais e podes contar com eles para esclarecer as tuas dúvidas.

Quimioterapia

A quimioterapia é uma das formas de tratar o cancro. É composta por medicamentos que vão destruir as células malignas – podem ser tomados em formato de comprimidos ou ser introduzidos no teu corpo através de uma agulha. Para evitar as picadas constantes, geralmente é colocado um cateter, que é um tubo que fica numa das tuas veias. Quando as células do cancro contactam com a quimioterapia, ficam apavoradas e escondem-se na tentativa de escapar. Mas as células boas bloqueiam-lhes o caminho e elas não conseguem fugir.

A quimioterapia pode ter alguns incómodos como, por exemplo, os enjoos e a queda de cabelo (que depois volta a crescer). Às vezes, as células do cancro conseguem esconder-se tão bem que a quimioterapia não as encontra. Por este motivo, é preciso fazer vários tratamentos de quimioterapia, com remédios diferentes e, por vezes, é preciso fazer também radioterapia e cirurgia. O objectivo é fazer com que todas as células malignas desapareçam. 

Radioterapia

Quando as células do cancro se concentram todas no mesmo sítio, e não são logo destruídas pela quimioterapia, pode ser preciso fazer radioterapia. 

A radioterapia também tem alguns efeitos desagradáveis como, por exemplo, a dificuldade em engolir, a sensação de estares sempre cansado e a pele ficar vermelha. Tal como a quimioterapia, também a radioterapia requer mais do que uma sessão. 

O importante de tudo isto é que, no final, possas ficar bem.

Imunoterapia

No teu corpo, existem células responsáveis por combater e destruir as células malignas.

A imunoterapia é um tratamento que multiplica e fortalece essas células que combatem os agentes malignos do teu corpo. Pode usar-se um medicamento que diz às tuas células saudáveis para produzir mais células, ou podem usar-se células produzidas em laboratório que já estão programadas para destruir o cancro.

Terapia dirigida

Nas células malignas encontram-se muitas vezes alterações genéticas que não existem nas outras células. Nalguns casos há medicamentos específicos para essas alterações genéticas que permitem combater o cancro de uma forma muito específica. Muitas vezes são medicamentos orais. 

Cirurgia

Por vezes, quando as células malignas estão aglomeradas todas num sítio, o médico pode necessitar de removê-las através de uma cirurgia. Esta pode ser feita antes ou depois da quimioterapia ou da radioterapia, ou pode nem ser necessária.

 A cirurgia será feita contigo a dormir profundamente, com uma anestesia.

Transplante de medula óssea

A medula óssea é uma substância que existe dentro dos ossos e fabrica as células do sangue. Nalguns casos, se a tua medula óssea não estiver estiver a funcionar bem e não fabricar o sangue que precisas, pode ser preciso fazer um transplante.

O transplante de medula óssea é muito semelhante a uma transfusão de sangue. Consiste, basicamente, em introduzir no teu corpo uma substância semelhante ao sangue, que pode ser de uma pessoa da tua família ou de um dador desconhecido. Essa nova medula vai substituir a tua medula doente.

Para a nova medula crescer bem dentro dos teus ossos, tens que ficar algum tempo no hospital, num quarto isolado, para evitares bactérias ou outros agentes perigosos que te possam causar dano nesta fase em que estás mais frágil. Quando finalmente estiveres bem, já vais poder voltar para a tua casa.

OS EFEITOS SECUNDÁRIOS DOS TRATAMENTOS

“Quanto mais abstraída conseguisse estar do mal-estar que sentia, melhor!”

Os tratamentos podem provocar vários efeitos secundários, dos enjoos à perda de cabelo. É importante que tu e os teus pais falem com a equipa médica para encontrarem formas de te sentires o mais confortável possível. 

Cansaço ou falta de ar

Alguns medicamentos reduzem os glóbulos vermelhos que são produzidos pela tua medula óssea. Esta redução pode fazer com que fiques anémico e te sintas muito cansado e com respiração ofegante. Para te ajudar a recuperar podes ter de fazer uma transfusão de sangue.

Hematomas ou hemorragias 

Existem medicamentos que reduzem a produção de plaquetas. As plaquetas são células que ajudam o sangue a coagular (quando tens uma ferida, ajudam a fazer estancar o sangue). Poderás ter, por exemplo, hemorragias nasais, nas gengivas ou nódoas negras. Se isto acontecer, poderá ser necessário fazer uma transfusão de plaquetas.

Náuseas e vómitos 

Acontecem por causa da medicação que tomas. Mas há medicamentos anti-enjoo que podem ajudar (anti-eméticos). 

Nestas alturas, é importante que tenhas refeições pequenas, frequentes e de fácil digestão. É recomendável dar preferência a alimentos frescos e refeições leves, pouco condimentadas, com pouca gordura e sem odores intensos. 

Não te esqueças dos líquidos nos intervalos das refeições, tenta hidratar-te frequentemente. Bebe muita água ou infusões de ervas ou néctares de fruta diluídos. Opta por ingerir bebidas nutritivas, como sumos ou batidos, em detrimento de refrigerantes. 

Mucosite 

É uma inflamação na boca e/ou garganta que pode fazer doer ao mastigar e engolir. A tua alimentação deve ser feita à base de alimentos moles e a temperaturas tépidas, evitando alimentos duros e secos.

Perda de apetite

É frequente e, por vezes, o paladar muda. Aproveita para ir experimentando outros alimentos ou comer os de que mais gostas. É melhor optares por refeições leves, embora de elevado teor calórico (pão, tostas, bolachas, biscoitos, cereais, farinhas lácteas, iogurtes, gelados). Podes sempre falar com o nutricionista que faz parte da tua equipa médica.

Diarreia 

Pode provocar desidratação e desequilíbrios nutricionais. É importante comeres com frequência, fazendo refeições com alimentos nutritivos, de fácil digestão, mas com pouca fibra (pão branco, bolachas de água e sal ou tipo Maria, arroz, batata, massas, carne e peixe).

Queda de cabelo e outros pêlos corporais 

É um dos principais efeitos dos tratamentos que actuam tanto nas células cancerígenas como nas saudáveis e atingem rapidamente as células que mais depressa se multiplicam. Como por exemplo, os folículos pilosos que são responsáveis pela produção dos cabelos. 

A queda do cabelo não é imediata. Geralmente ocorre nas primeiras semanas após a quimioterapia, mas vai depender desta e também varia de pessoa para pessoa. O cabelo volta a nascer cerca de 1 a 3 meses após o fim do tratamento. Não vale a pena usares champôs e loções para a queda, pois estes não evitam que os cabelos caiam nem o fazem crescer mais depressa.

“DESEJOS ESTRANHOS”

Jovens que já passaram por tratamentos oncológicos contam que já tiveram “desejos estranhos” a horas estranhas e vontade de juntar alimentos que outras pessoas não fariam.

Ao Cristiano apetecia-lhe cereais com Twix.

À Patrícia Nestum com feijoada e bolo de chocolate com chouriço.

O Paulo, à primeira refeição do dia, apetecia-lhe carapaus assados.

À Maria, durante a noite, dava-lhe vontade de arroz de cabidela, de polvo, de marisco e de tostas com paté de fiambre.

E OS MEUS IRMÃOS? E OS QUE ME RODEIAM?

Já deves ter percebido que as pessoas que estão contigo neste percurso sentem as coisas boas e festejam contigo. Sentem os contratempos e sofrem contigo. E os teus irmãos não são excepção.
Se eles não entenderem o que se está a passar e virem a atenção apenas voltada para ti (o que é perfeitamente natural e não te podes culpabilizar por isso), fala com eles. Explica-lhes o que se está a passar contigo, o que sentes, o que pensas. Faz-lhes questões! Pergunta se eles estão a par da doença que tens, dos tratamentos que fazes. Mostra preocupação e fala regularmente com eles. Questiona-os sobre os trabalhos de casa, os testes, os colegas da escola, como corre a faculdade, etc. Mostra-te disponível para eles. Pede-lhes, essencialmente, que sejam compreensivos.

Caso não tenhas irmãos, podes fazer o mesmo com os que te são próximos: partilha com eles o que sentes, esclarece-os sobre dúvidas que tenham, propõe actividades juntos, dentro do que costumavam fazer, mesmo que estejam longe fisicamente.
O cancro está em ti, mas todos à tua volta também lidam com ele e têm a mesma meta que tu: a de mandar o cancro para um sítio bem longe.

E DEPOIS DA ALTA?

“Coisas boas ou más vão acontecer-nos sempre, quer queiramos quer não. Independentemente de termos estado doentes ou não. É a vida!”

O fim do tratamento será, possivelmente, um período de emoções mistas. Desde que soubeste do diagnóstico, deve ser aquilo por que mais anseias, mas é normal não sentires a alegria que esperavas. De repente, vês-te afastado da equipa de profissionais de saúde que vias todos os dias, e outras preocupações e ansiedades levantam-se nesta etapa. É normal que te sintas assim, não fiques surpreendido.

A tua reacção pode ser muito variada. Podes integrar-te sem qualquer dificuldade, retomando com alegria as tuas actividades; podes sentir-te mais maduro e valorizar outros aspectos da vida; podes desenvolver sentimentos de apatia e indiferença tornando-te mais fechado e desinteressado; podes sentir-te muito dependente da família e sentires-te inseguro para enfrentar o mundo. É natural sentires tudo isto.

Retomares as tuas rotinas, com os teus amigos e colegas, pode ajudar neste regresso à vida “após hospital” e a gerir estes sentimentos. Este equilíbrio pode ser importante para ti. Tudo o que passaste condicionará, durante algum tempo, a tua vida e de todos os que te rodeiam. Os teus pais também podem ter mudado: podem estar mais protectores, mais inseguros, desorientados e até confusos sobre o que é melhor para ti. Lembra-te de que, para eles, foi também difícil verem o teu sofrimento, os teus tratamentos, todas as mudanças pelas quais passaste. Fala com eles. Se sentires que precisas de tempo, diz-lhes isso: preciso de tempo para restabelecer as rotinas, os objectivos, o meu dia-a-dia.

Dá-lhes a oportunidade de verem que o amor e incentivo é muito importante para o teu regresso à vida diária, para te sentires seguro e motivado a abraçares os desafios que a vida te traz. 

Também é normal teres dúvidas sobre possíveis sintomas que apareçam. Lembra-te: o médico e a restante equipa está à distância do teu contacto, pergunta-lhes sempre e esclarece todas as tuas dúvidas. Vais ter consultas de acompanhamento em que o objectivo principal é fazer uma avaliação médica geral e requisitar qualquer exame que seja necessário. A frequência varia consoante alguns factores. Durante o primeiro ano serão mais regulares, mas, à medida que o tempo vai passando, os intervalos entre as visitas vão ficando cada vez maiores. O teu médico pode explicar tudo isto com mais detalhe, pergunta-lhe e esclarece todas as tuas dúvidas.

Alguns sobreviventes de cancro pediátrico são confrontados com efeitos a longo prazo. Estes podem afectar o teu bem-estar físico e/ou psicológico. É importante saberes que podes falar sobre estes efeitos a longo prazo com o teu médico. Ele acompanhou-te durante o teu tratamento e saberá esclarecer as tuas dúvidas e, sempre que necessário, encaminhar-te para a especialidade adequada. Lembra-te de que, nesta fase, pode ser benéfico falares com alguém sobre todas as mudanças, sentimentos, dúvidas e angústias. Conta também com o Apoio Psicológico que a Acreditar disponibiliza.

SOU JOVEM ADULTO COM CANCRO. E AGORA?

“Inesperadamente, a nossa vida é interrompida e muitos planos idealizados são adiados. Quando confrontados com um diagnóstico de cancro, somos forçados a desacelerar numa altura em que para muitos seria suposto “levantar voo” – concluir um curso no ensino superior, iniciar uma carreira profissional, comprar casa, casar, ter filhos.”

A doença oncológica nos adolescentes e jovens adultos (15-25 anos) é ainda um tema muito pouco estudado, em Portugal e no resto do mundo. Ser jovem adulto com cancro é, por vezes, estar em “terra de ninguém”, e os tratamentos, muitas vezes, dividem-se entre o hospital de adultos e o hospital pediátrico. 

A Acreditar acompanha crianças e jovens com um diagnóstico de cancro até aos 25 anos e este é o teu espaço. Estamos, juntos, a crescer neste acompanhamento e ainda há muita informação que não sabemos. 

Se tens entre 15 e 25 anos e um diagnóstico de cancro fala connosco,  através do e-mail tc@acreditar.pt ou WhatsApp – 910 065 446. O teu testemunho faz a diferença!

Para um momento de leitura, partilhamos alguns links contigo:

Também podes ver um webinar onde falámos sobre os jovens adultos: quem são, onde estão, quais as necessidades e especificidades. 

MAIS COISAS INTERESSANTES AQUI!

“Tenho vontade de agradecer cada dia que passa.”

Desde o momento do diagnóstico que a tua vida levou uma reviravolta: passaste a conhecer o hospital de alto a baixo, o teu médico passou a fazer parte da tua lista de amigos, as saudades da tua família e amigos vão aumentando… 

Seleccionámos alguns vídeos, sites e livros que podem ajudar-te a esclarecer algumas dúvidas ou a reflectir sobre o que é o cancro.  

Lançamos-te o desafio de partilhares connosco outros conteúdos que são importantes para ti, para que possamos acrescentar a esta lista e, assim, partilhar com todos.
Envia-nos para barnabe@acreditar.pt as tuas sugestões ou dúvidas. Juntos somos ainda mais fortes!

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